domingo, 17 de março de 2024

SEMANA DA LEITURA - “Uma página por dia, não sabe o bem que lhe fazia” - 3.º Ciclo

 3.º Ciclo

Este ano, é nossa intenção dar início à semana da leitura com a sugestão de um texto humorístico. Trata-se de um pequenino conto tradicional do povo português, que mostra como as crianças, que não iam à escola, se sabiam defender e até vingar do autoritarismo dos adultos. Neste caso, trata-se de um rapazito que era obrigado a acompanhar um pedinte enquanto este pedia esmola pelas aldeias. Oiçam com atenção.


O cego e o moço

Um cego andava pedindo esmola pela mão de um moço; a uma porta deram-lhe um naco de pão e um bocado de linguiça.

O moço pegou no pão e deu-o ao cego para metê-lo na sacola, e ia comendo a linguiça, [sem que o cego se apercebesse].

O cego, desconfiado, pelo caminho começa a bradar com o moço:

– Ó grande tratante, cheira-me a linguiça! Cheira-me a linguiça! Acolá deram-me linguiça e tu só me entregaste o pão.

– Pela minha salvação, que não deram senão pão.

– Mas cheira-me a linguiça, refinado larápio!

E começou a bater com o bordão no moço pancadas de criar bicho.

O moço era ladino e disse lá para si que o cego lhas havia de pagar.

Quando iam por uns campos onde estavam uns sobreiros, o moço embicou o cego para um tronco, e grita-lhe:

– Salta, que é rego. O cego vai para saltar e bate com os focinhos no sobreiro. Grita ele:

– Ó rapaz do diabo! Que te racho.

Diz-lhe ele:

Pois cheira-lhe o pão a linguiça,

e não lhe cheira o sobreiro à cortiça?

Teófilo Braga, Contos Tradicionais Portugueses (Recolha)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.

Conversa com o escritor José Gonçalves

  No passado dia 21 de março, a Biblioteca Escolar do Externato de Vila Meã, recebeu, mais uma vez, o escritor José Gonçalves para uma conv...